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OPINIÃO: O comunismo tupiniquim

"O regime militar livrou o Brasil do comunismo". Eis aí uma gigantesca bobagem sobre a qual temos que conversar por dois pontos em específico: primeiro, nunca houve qualquer ameaça comunista no Brasil e, segundo, porque se observarmos atentamente alguns fatos e os aplicarmos às premissas alardeadas pelos que se dizem "anticomunistas", podemos concluir facilmente que a experiência mais próxima do "comunismo" no Brasil foi o próprio regime militar. Parece paradoxal, e é, mas posso provar que estou certo.

Comecemos pelo fato de que o golpe de 1964 foi chamado de "revolução", dada por uma junta militar autodenominada "Comando Revolucionário Supremo". Bom, capitalista que se preze sabe que "revolução" é coisa de marxista, e que a única coisa que pode levar à evolução é a "mão invisível do mercado". Aliás, essa retórica "revolucionária" está mais para a tradição de Lenin, Kim Il Sung, Fidel Castro e Hugo Chavez do que para alguém que pretenda repelir o "comunismo".

Mas tudo bem, vamos além da mera retórica. No início do Regime Militar foi proposto e aprovado o Estatuto da Terra, primeira lei a prever a possibilidade de desapropriação de terras para fins de reforma agrária e a estabelecer alíquota  progressiva  de  imposto  sobre  imóveis  rurais. Mas mais do que isso, em 1966, os militares criaram o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), que nada mais é do que uma forma de o Estado expropriar parte da poupança do trabalhador, utiliza-la em seu benefício próprio e só devolve-la em condições especificíssimas. Ora, o que pode ser mais "comunista" do que isso?

Nessa época, os militares metiam o bedelho em tudo e criaram vários monopólios estatais: petróleo, telecomunicações, energia elétrica, fertilizantes e até computadores. Com isso, deu-se um impressionante inchamento da máquina estatal. Calcula-se que 126 estatais foram criadas ou incorporadas ao patrimônio público após 1967. Isso fez com que em 1973, a União Federal chegasse a cerca de 1,183 milhão de trabalhadores, boa parte nomeada sem concurso, já que na época eles não eram obrigatórios. Em 1978, o cadastro da Administração Federal contabilizava impressionantes 212 empresas estatais, incluindo holdings e subsidiárias.
Resultado? A burocracia entrou em colapso, a dívida externa quadruplicou em uma década, a inflação explodiu, e o calote veio nos anos 1980, que é exatamente o que "liberais" costumam dizer que acontece quando "comunistas" assumem.

Dito isto, chegamos ao conclusivo óbvio. Ao dar o golpe em 64, os militares não pretendiam evitar o "comunismo" porcaria nenhuma. Queriam apenas o poder e, para isso, inventaram essa lorota de "ameaça comunista", como, aliás, Getúlio Vargas já tinha feito em 1937. Antes que me acusem, esclareço que não considero ter sido o regime militar "comunista", como dei a entender. Usei de simples ironia para deixar claro que a coerência dos que se dizem "anticomunistas" é frágil como papel ao vento. Aliás, assim como seu suposto patriotismo, mas isso é assunto para outro artigo.

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